check into

com uma entrada repleta de sofás velhos entulhados, um hotel barato de guarapuava-pr – bem em frente do terminal de ônibus do centro – raramente tem na sua recepção um dos dois gentis senhores rosados que parecem administrar o local. a solução é o hóspede pegar por conta própria a chave do quarto.

diferente de uma pousada ilegal em brasília-df, onde, num feriado, encontrei funcionário único: um vigilante entretido com guitar hero, que preparava café da manhã com leite azedo, não tinha vergonha de revelar a falta de papel higiênico e até divagava sobre a infância naquele sobrado.

um cubículo sufocante me abrigou de emergência em natividade-to. a porta mal conseguia abrir sem riscar a cama. passado o desespero da falta de ar, adormeci satisfeito com a música alegre e não tão alta que vinha dos fundos de um bar ali colado.

de passagem por belo jardim-pe, a única opção foi um hotel cujo quarto ela cortado pela fiação exposta. justo sobre minha cama, o teto se abria para uma passagem escura, algo como um improvável sotão. brinquei de me horrorizar e mais uma vez dormi logo.

em meios às ruas caóticas do centro de caruaru-pe, estacionei e me hospedei. na manhã seguinte, no salão do café, uma funcionário irrompeu, quase gritando simpática que quem tivesse estacionado em frente ao hotel deveria correr parea tirar o carro. a fiscalização chegaria em 15 minutos.

próximo à principal praça de santa cruz de la sierra-bolívia fica um imenso hotel que parece todo erguido em mármore. quartos luxuosos, camas king size, restaurante dourado e fartos pratos de frutos do mar. uma doce camareira, a quem eu pedi linha e agulha, se prontificou ela mesma a costurar minha mochila rasgada.

por duas vezes tive dificuldade de me aproximar de minha pousada em ushuaia-argentina. do bosque sempre emergiam imensos e calados cães. muitos mesmo.

em novo acordo-to não me hospedei. mas foi num hotel que encontrei, num domingo, o único restaurante aberto.  pouco mais que uma galinha muito gordurosa disponível. ao garoto de uns 12 anos que de lá tomava conta perguntei pelas bebidas. ele me disse que não havia nada, mas, com muito custo, conseguiu tirar outro menino mais novo ainda da frente de uma tv para comprar um refrigerante numa farmácia próxima para  mim.

em natal-rn, um mesmo italiano recém-chegado e ilegal conseguia ser recepcionista, camareiro, cozinheiro, gerente e garçon num pub da sua pousada. e fazendo bem tudo isso, embora não se conseguisse entender o que ele dizia.

a hospitalidade  deveria ser aprendida mesmo com uma cabeça deitada num colo quente.

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