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sobre teu nome

vamos ao ponto: esta pedra está em pedra.

para subir e tirar essa foto cinzenta ao lado do cruzeiro precário serão necessárias algo como quatro horas pela br232, do recife até arcoverde (cujo portal de entrada, até onde eu esteja atualizado, é um arco verde). ali já é sertão, porém os pouco mais de 15 km da estradinha até pedra trazem (sem que o não-iniciado entenda o porquê) de volta ao agreste.

se houver alguma dúvida do caminho, ao se pedir a um arcoverdense, talvez ouça-se a pergunta: “pedra de buíque?”. pode-se responder que sim. mas JAMAIS alguém deve usar tal expressão diante de um pedrense. a fúria e a mágoa devastarão o cidadão que se orgulha de pertencer a um município separado da vizinha um pouco maior, mais famosa e…turística.

estive em pedra por duas vezes, num hiato de vinte anos. nada de novo surgiu em meio a uma cidade que já não causava sobressalto. mas o que existia decaiu, como a tinta velha da fachada de uma casa. se os tais 15 km eram transcorridos antes num quase piscar de olhos – sobretudo em noites absolutamente negras, com o mato alto afagando as portas do carro a 120 km/h, uma lua imensa e a certeza de criaturas nefastas que saltariam no asfalto para esfolar os viajantes -, na altura de 2005 as crateras a cada metro transformavam o empenho em quase uma hora (fruto de enchente histórica no raiar do século XXI).

se não há o que visitar e dificilmente até achar um restaurante para uma refeição qualquer, resta em pedra virar numa rua a dois quarteirões do centro e subir a pedra. um morador dissera certa vez que são 200 e poucos metros de altura. devia estar certo. ao pé da pedra, em algo como um açude, lavadeiras esfregam roupas e as estiram sobre a rocha.

– podemos tirar uma foto?

– quanto vocês vão dar pra gente?

sim, em pedra melhor só subir a pedra. um agreste bonito cada vez mais amplo a medida que o desafio é vencido. poças e musgos e aranhinhas e girinos. cactos singelos irrompendo em grupo. e ao fim, lá no cruzeiro, uma estranha mas confortável impressão de vitória, de conquista digna de um pico que dá sentido, nome e carinho a uma cidade com muito pouco de tudo isso.